faut partir pour se trouver. (ii)estação de comboios.
local: irrelevante hora: inconsequente
fim de tarde.
naquela encruzilhada em que o céu se desfaz em farrapos de nuvens tristes e uma chuva insolente e mesquinha prolonga a espera interior.
um fio de vento frio corta por entre a plataforma deserta e enrola-se em torno do pescoço.
arame farpado simbiótico.
a pele responde tornando-se hirta.
repuxando os poros enquanto vagas sucessivas de calafrios enterram agulhas invisíveis até à camada mais profunda da epiderme.
sou um boneco de trapos ensopado em nicotina.
caras que se sucedem de expressões vazias.
desprovidas de fogo. e de vida. e de luz.
caminhos que se traçam com automatismo mecânico.
ao ritmo do placard luminoso pejado de
destinos-sem-destino.
a linha de comboio na curva que encerra o horizonte clama por corpos.
reclama uma vez mais.
doce rendição.
entro pesarosamente na barriga do monstro de metal.
mais uma viagem numa linha por mim não traçada.
leva-me para longe.
leva-me para onde me possa encontrar.
[ me dicen el desaparecido fantasma que nunca está
me dicen el desagradecido pero esa no es la verdad
yo llevo en el cuerpo un dolor que no me deja respirar
llevo en el cuerpo una condena que siempre me echa a caminar
llevo en el alma un camino destinado a nunca llegar ]
.
state of mind: desaparecido_manu chao