i'm stitching wounds that won't heal. stitching myself back together.
foram semanas inteiras passadas numa cama desfeita.
os dias a sucederem-se maquinalmente pelos buracos dos estores.
entre sonos profundos e despertares sobressaltados.
entre esgares em forma de risos e lágrimas em forma de nada.
sem conteúdo.
agarrado aos lençóis retesados como se fossem grilhões que não permitissem sair dali para fora. escapar daquelas paredes que protegiam dum mundo alterado.
vagas de suores frios e espasmos musculares tornavam o corpo num cadáver simulado.
desintoxicação opiácea kafkiana. metamorfose regressiva.
esponja molhada escorrendo da testa para o soalho.
o médico entrava no quarto e abanava irremediavelmente a cabeça prevendo um desfecho trágico.
malade d’amour – dizia.
fixava o tecto branco durante horas e durante horas projectava imagens antigas.
vertigem decalcada a alucinações reais.
masoquismo espácio-temporal.
sonhos recorrentes inacabados aos quais se agarrava como um sinal.
como um remédio miraculoso que viesse e o arrancasse daquela morte antecipada.
ou terminasse com tudo de vez.
.
state of mind: celos_gotan project