...ou de nada; ou só de algumas coisas, dependendo do dia ( e sobretudo da noite )

segunda-feira, janeiro 23, 2006

acidamente.acidamente adormecido. (i)

Hoje, pegava na ponta oposta do dia que passou, e transformava-a num suor frio, numa testa febril, numa qualquer desculpa bem construída; sem erros nem fracassos.
Recomeçava as vezes que fossem necessárias, e alimentava os corpos vazios de matéria gordurosa, que nos fizesse sentir satisfeitos.
Num ímpeto, torcia os dedos até mais não serem que linhas imaginárias.
Paralelas.
Que não se cruzassem. Que se sobrepusessem.
Que alimentassem o medo das despedidas; tanto como a linha de comboio, na curva que encerra o horizonte.
Que embrulhassem em papel plástico brilhante (às cores, como aquele dos chocolates, lembras-te?) a inocência necessária para me fazer desejar algo diferente.
Que me dessem o silêncio necessário para conseguir pensar.
Os minutos passam imóveis.As pétalas secam e caiem; como num filme antigo.
Sempre a preto e branco.
Em camadas consecutivas.

*

acidamente.acidamente adormecido. (ii)



Hoje dei por mim a pegar na caneta e a esvaziar todo o seu conteúdo.Enchi-me de tinta, de frases, de palavras soltas sem sentido.
Elaborei uma configuração mental difícil de ser quebrada.
Sujei as mãos na tinta invisível, insuspeita de ser lavável.
Cuspi. Forcei a garganta até mais não sair que sangue.
Até morrer. Por dentro. Até sufocar.

Catarse. Catarse.
Enrolado no turbilhão. Até não poder mais e abrir os olhos. Até vomitar todos os ácidos do estômago debilitado.
No vortex da curva, larguei o volante e deixei-me levar. Só por curiosidade.Apenas para ver se realmente acontecia.
Apenas para saber.
A noite entrou rápida pelos olhos inundados de orvalho. O frio pegou-me pela garganta. O metal abriu os pulsos e o peito encheu-se, enfim, de alfinetes. Um por cada pecado.

Distorção. Delay.
(mayday. mayday.)

*


acidamente.acidamente adormecido. (iii)


Barreira invisível. A estrada coberta de sangue. De pontas de cigarro húmidas.
Consumidas noites a fio, sem interrupção.
A cair, a pique.Estranhamente, sem medo do impacto.
Batidas concisas.
Enumeradas.Rítmicas.
Compassadas.
Hoje, os cenários estão envoltos num estranho nevoeiro.
Hoje, nada parece real. Mas não foi sempre assim? Desde a primeira noite?
O conto de fadas tornou-se em manual escolar.
Com regras.

Despido de metáforas.

Frio e linear.


(Hoje, ao cair da noite, não esperes por mim.
Adormece como se nunca tivesse estado presente.
Ainda não estamos seguros. Sobraram pétalas secas que urge vigiar. Aguardar pacientemente que caiam, antes que possa, por fim… matar-te.)

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state of mind: where do we go now but nowhere_nick cave