...ou de nada; ou só de algumas coisas, dependendo do dia ( e sobretudo da noite )

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

plier. deplier. plier. deplier. plier. deplier.


Há palavras difíceis de serem ditas.
Há frases que se embrulham com tamanha força em volta da língua que ao serem arrancadas criam longos períodos de silêncio.
Como se o fluxo do pensamento fosse repentinamente quebrado e só um gesto inversamente proporcional à violência das palavras pudesse repor o equilíbrio.

E eu não quero isso.
Não para ti.

Não quero sentir o nervosismo das tuas mãos.
Os dedos movimentando-se no vazio como se tivessem realmente algo para fazer. Observar-te a andar para lá e para cá dentro do espaço exíguo do quarto-masmorra.
Dobrando com exagerado cuidado peças de roupa que normalmente deixas espalhada ao acaso.
Em 2.
Em 4.
Como se fossem feitas de cristal e o mínimo descuido as pudesse quebrar.
Encaixando no seu devido lugar objectos banais.
Alfabeticamente.
Cromaticamente.
Como se fosse urgente e necessário que tudo estivesse em ordem.

Como se disso dependesse o sentido das coisas. Como se só assim conseguisses suster o soluço triste que lutas para manter preso na garganta. Como se disso dependesse continuares a respirar. Só para não teres de olhar para mim. Como se o facto de ignorares o que eu disse me transformasse num espectro invisível. Como se eu desaparecesse da porta do teu refúgio e não tivesses de soletrar, letra a letra, palavra a palavra, as consequências do som ventilado das minhas entranhas.

STOP.REWIND.

Como se nunca tivesse acontecido.


[In came the girl with the sad eyes and asked him over again
"Was I too weak? Was I a child?" and
"Can't we leave here and start again?" ]


.
state of mind: bound to ramble_john butler trio

1 Comments:

Blogger Mary Of Silence said...

Quando tudo está do avesso, é bom parar e comtemplar as imagens numa sucessão inversa. Juntar as peças do puzzle que é a vida...
Esquecer, não. Tudo é barro moldado de conhecimento.

10:55 da tarde

 

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